quinta-feira, 14 de junho de 2012


“Tigre de olhos grandes” 

O Grão-mestre Feng Zhiqiang nasceu em 1928, na província de Hebei, China. Pertence a 18ª. Geração do Taiji quan estilo Chen, linhagem Chenjiacou. Alguns membros de sua família biológica praticavam artes marciais e, quando Feng fez 8 anos de idade, um dos seus familiares começou a ensinar-lhe Shaolin quan (http://pt.wikipedia.org/wiki/Shaolin_quan), arte marcial externa, no Brasil mais conhecida como Kung fu. Nestes treinos Feng se mostrava muito desenvolto e fisicamente muito forte. Nesta época ele era conhecido como o “Tigre de olhos grandes”. 

Aos seus 12 anos de idade sua família o enviou a cidade de Beijing para sua formação profissional e para continuar seus treinamentos nas artes marciais externas até ser apresentado, aos 20 anos de idade, ao mestre Hu Yaozhen  que criticou seus métodos desgastantes de treinamento. Neste primeiro encontro e diálogo após uma experiência marcial de impressionante impacto através da demonstração do Fraco vencendo o Forte pelo mestre Hu, Feng se convence totalmente de outro tipo de treinamento. A partir deste encontro Feng se torna discípulo do mestre Hu Yaozhen, exímio em Xinyi quan (http://pt.wikipedia.org/wiki/Xinyiquan), arte marcial interna. Mestre Hu com seus conhecimentos dos treinamentos taoístas e de medicina chinesa investiu no seu novo e devotado discípulo. A partir de então, Feng inicia seus treinamentos voltado às artes marciais internas onde aprende a desenvolver aspectos antes desconhecidos para ele como o Desenvolvimento da Intenção e o Cultivo do Qi (http://pt.wikipedia.org/wiki/Qi), entre outros treinamentos internos. Como arte marcial Feng começa a aprender o Xinyi quan, o Boxe da Mente ou Intenção. 

Em determinado momento do treinamento, o mestre Hu Yaozhen quis que Feng expandisse seus conhecimentos para além do Xinyi quan e lhe apresenta o também renomado mestre das artes marciais internas, especificamente o Taijiquan estilo Chen (http://pt.wikipedia.org/wiki/Tai_Chi_Chuan_estilo_Chen)Boxe do Yin e Yang, mestre Chen Fake (http://pt.wikipedia.org/wiki/Chen_Fake) descendente da família Chenjiagou, 17ª geração, na época residindo em Pequim. A partir deste momento Feng treinou simultaneamente com ambos os mestres. Posteriormente, quando os dois mestres, Chen Fake e Hu Yaozhen, decidem montar um centro de treinamento em Pequim, Feng continua treinando com estes dois mestres sempre se dispondo a fazer o treinamento de Tui shou (empurrar as mãos - http://pt.wikipedia.org/wiki/Tui_shou) com o vigoroso mestre Chen Fake. Por este caminho Feng se tornou muito preparado em tal técnica. Este treinamento simultâneo ocorreu até os seus 30 anos de idade, período do falecimento do mestre Chen Fake. 

Uma das belas heranças que este período deixou para Feng foi a irmandade com os colegas de prática, a qual se denominava “Irmãos Gongfu” (irmãos de treinamento). Neste convívio íntimo com seus “Irmãos Gongfu”, Feng demonstrava liderança natural que era aceita pelos irmãos e orientava o grupo na Ética Marcial, principalmente depois do falecimento do mestre Chen Fake. Neste convívio, tornou-se muito próximo de Chen Zhaokui, filho de Chen Fake. 

Após o término da Revolução Cultural, quando o resgate da cultura antiga da China foi iniciado, devido ao já construído renome no mundo das artes marciais Feng foi oficialmente convidado pela administração local de Chenjiagou, região de origem do estilo Chen de Taiji quan, para lecionar por algumas vezes. Também membros de Chenjiagou foram visitá-lo em Beijing a fim de estudar Taiji quan. Como exemplo desta interação, em 1984 é lançado o livro “Chen style Taiji quan” com a participação de Feng Zhiqiang e Chen Xiaowang, um dos membros da família Chenjiagou. 

Considerado grão-mestre em Taiji quan, Feng Zhiqiang fez um expansivo trabalho de divulgação do Taiji quan na China e em vários países ocidentais, porém sempre quis manter residência em seu próprio país, local onde se sentia enraizado. Relatos de alunos norte-americanos e europeus datados de 2001 expõem a vitalidade e proficiência corporal que o grão-mestre Feng Zhiqiang dispunha nos seus workshops. Atuando até pouco antes do seu falecimento, o grão-mestre Feng Zhiqiang promoveu simpósios internacionais de Hunyuan Taji quan nos quais aconteceram encontros de diversos discípulos da China e do mundo. 

A HERANÇA 

O grão-mestre Feng Zhiqiang deixou-nos uma grande herança, a começar por suas duas filhas, mestra Feng Xiufang a mais velha e mestra Feng Xiuqian a mais jovem. As duas mantém o Hunyuan Taijiquan como prática. Elas também participaram com afinco acompanhando o pai em seus treinos, aulas, simpósios e viagens ao exterior. Atualmente ministram treinos na China e no Ocidente. Também deixou uma “Família Hunyuan”, Irmãos Gonfu, ou seja, mestres e professores pela China e pelo Ocidente. Além disso, o grão-mestre Feng Zhiqiang deixou suas criações no âmbito corporal do Taiji quan, assim como suas variantes, registrados em diversos vídeos didáticos e livros. 

A TRANSFORMAÇÃO 

O grão-mestre Feng praticou Shaolin quan como relatado em sua biografia e declarou aos seus alunos interessados a diferença entre as artes marciais externas e internas. Em uma o uso da força fisica para conduzir o Qi (Força Interna) e na outra o uso da Intenção para conduzir o Qi respectivamente. Ele declarou que ao adentrar no mundo das artes marciais internas não praticou mais as artes marciais externas. Isto é visível no processo do seu trabalho corporal, onde no início percebe-se a influência das artes marciais externas. Vemos movimentos mais curtos, articulações contidas e, passado alguns anos nas práticas internas, vemos sua movimentação ampla e suave. Este processo só veio reforçar a veracidade do trabalho do grão-mestre Feng Zhiqiang, já que ele mesmo foi transformado enquanto pessoa e movimento. 

A leitura do mestre Feng, por volta do ano 1999, era de que os praticantes estavam dando muita importância aos movimentos explosivos, mas ao mesmo tempo enxergava um bom desenvolvimento futuro do Taiji quan já que os novos professores são mais abertos, compartilhando seus conhecimentos. 

Eticamente o grão-mestre Feng Zhiqiang orientava que o desenvolvimento marcial deve ser precedido de um desenvolvimento pessoal para que esta arte seja usada para o Bem.




professor Li Bou Ning

  Li Bou Ning, chegando a São Paulo em 1993, era até então o único discípulo do mestre Feng Zhiqiang no Brasil. Ele vem de uma tradicional família de artistas: seu pai é um famoso ator da Ópera de Beijing e ele próprio, desde pequeno, passou pela árdua formação de ator da ópera. De espírito inquieto e curioso, além da ópera de Beijing, foi bailarino da Companhia de Dança e Canto do Exercito de Beijing; aprendeu as artes curativas do Tuei Na (massagem energética chinesa) e da acupuntura e antes de vir ao Brasil, dirigia documentários e adaptações da Ópera de Beijing para a televisão central de Beijing. Conheceu o mestre Feng em 1985 quando dirigia um documentário da TV sobre artes tradicionais chinesas e seus mestres vivos. Uma das entrevistas realizadas por Li Bou Ning era com o mestre Feng. Após a gravação o mestre Feng, encantado com o talento do jovem, convidou-o para ser seu discípulo, fato inusitado, pois o mestre Feng na época já não aceitava mais discípulos. Assim Li Bou Ning, que se iniciou no Taiji quan mais por consideração ao mestre Feng, foi sendo aos poucos conquistado por esta arte, na medida em que ao praticá-la, se sentia cada vez melhor e com mais vitalidade.



mestre Cao Yin Ming

Um mestre chinês que trabalhou a energia vital

ESTÊVÃO BERTONI
   DA REPORTAGEM LOCAL 

Em 1988, mestre Cao Yin Ming veio ao Brasil. Trazia na bagagem tudo o que aprendera sobre um método conhecido como qi jong na China. Aqui, essa técnica milenar baseada em exercícios suaves e posições que trabalham com a energia vital do corpo ganhou o nome de chi kung e inclui ainda atividades de meditação e respiração. Cao Yin Ming foi um especialista no assunto, tendo adaptado o método às especificidades brasileiras, como conta a mulher, Dai Ling, que o conheceu ainda na China. Surgiu assim, em SP, o Instituto de Acupuntura e Cultura Chinesa, onde ele orientava mais de cem alunos. Seu sonho, lembra a mulher, era ser tenor. Aficionado por óperas, cantava "muitíssimo bem". Um belo dia, descobriu que os exercícios propostos pelo chi kung poderiam melhorar o seu desempenho vocal. Decidiu, então, estudar e se aprofundar no tema. Não foi cantor profissional, como sonhava, mas se apresentava para os amigos. O Brasil apareceu no seu caminho por causa da irmã, que para cá se mudou há muitos anos. Foi numa visita feita a ela que ele se encantou pelo país e decidiu se mudar. No começo, contava com a ajuda de intérpretes e amigos para se comunicar. Ultimamente, afirma a mulher, já falava bem o português.